Os Lusíadas de Luís de Camões ilustrados por Carlos Alberto Santos |
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Mas
Marte, que da Deusa sustentava
entre
todas as partes em porfia,
ou
porque o amor antigo o obrigava,
ou
porque a gente forte o merecia,
de
entre os Deuses em pé se levantava
(merencório
no gesto parecia)
o
forte escudo, ao colo pendurado,
deitando
para trás, medonho e irado.
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que
da deusa sustentava- que a deusa
apoiava;
partes
em porfia- opiniões em disputa;
porque
o amor antigo o obrigava- referência à antiga
paixão de Marte por Vénus;
merencório-
o mesmo que "melancólico";
gesto-
semblante.
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37-
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A viseira
do elmo de diamante
alevantando
um pouco, mui seguro,
por
dar seu parecer se pôs diante
de Júpiter,
armado, forte e duro.
E dando
ua pancada penetrante
co conto
do bastão no sólio puro,
o Céu
tremeu, e Apolo, de torvado,
um
pouco a luz perdeu, como enfiado.
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sólio-
trono;
Apolo
um pouco a luz perdeu- Apolo conduzia o carro do Sol e, portanto,
simboliza-o.
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38-
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E disse
assi: –"Ó Padre, a cujo império
tudo
aquilo obedece que criaste:
se esta
gente que busca outro hemisfério,
cuja
valia e obras tanto amaste,
não
queres que padeçam vitupério,
como
há já tanto tempo que ordenaste,
não
ouças mais, pois és juiz direito,
razões
de quem parece que é suspeito."
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a
cujo império- a cuja vontade;
vitupério-
desonra, grande humilhação;
juiz
direito- justo;
razões
de quem parece que é suspeito- argumentos de quem não
é independente (lança sobre Baco a suspeita de ser
parte interessada na perdição dos navegadores que
buscam a Índia).
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