Os Lusíadas de Luís de Camões

ilustrados por Carlos Alberto Santos

Canto I, estâncias 33-35

O Consílio dos Deuses- razões do apoio de Vénus aos Portugueses.

33-
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Sustentava contra ele Vénus bela,
afeiçoada à gente Lusitana
por quantas qualidades via nela
da antiga, tão amada, sua Romana;
nos fortes corações, na grande estrela
que mostraram na terra Tingitana,
e na língua, na qual quando imagina,
com pouca corrupção crê que é a Latina.
estrela- predestinação;
terra Tingitana- Norte de África (de Tânger);
língua (...) que com pouca corrupção crê que é a latina- a língua portuguesa (que, diga-se em abono da verdade, apesar de semelhante a um dialecto latino que se falava na Península Ibérica no tempo dos romanos, é muito diferente do Latim puro).
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Estas causas moviam Citereia,
e mais, porque das Parcas claro entende
que há-de ser celebrada a clara Deia
onde a gente belígera se estende.
Assi que, um, pela infâmia que arreceia,
e o outro, pelas honras que pretende,
debatem, e na porfia permanecem;
a qualquer seus amigos favorecem.
Citereia- Vénus;
Parcas- divindades do destino dos homens;
há-de ser celebrada a clara deia onde a gente belígera se estende- há-de ser cultivado o amor (Vénus é a deusa do amor) onde chegarem os portugueses;
um...e o outro- Baco e Vénus.
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Qual Austro fero ou Bóreas na espessura
de silvestre arvoredo abastecida,
rompendo os ramos vão da mata escura
com impeto e braveza desmedida,
brama toda montanha, o som murmura,
rompem-se as folhas, ferve a serra erguida:
tal andava o tumulto, levantado
entre os Deuses, no Olimpo Consagrado.
Austro e Bóreas- nomes de dois ventos (o Vento Sul e o Vento Norte) que, na Mitologia Clássica, correspondiam a duas divindades menores.
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