Os Lusíadas de Luís de Camões ilustrados por Carlos Alberto Santos |
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20-
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Quando os
Deuses no Olimpo luminoso,
onde o
governo está da humana gente,
se ajuntam
em consílio glorioso,
sobre as
cousas futuras do Oriente,
pisando
o cristalino Céu fermoso,
vem pela
Via Láctea juntamente,
convocados,
da parte de Tonante,
pelo neto
gentil do velho Atlante.
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Deuses-
no final d'Os Lusíadas Camões reconhece que os deuses
são apenas um artifício narrativo;
Olimpo-
monte nos Balcãs que, segundo a mitologia grega, era a morada
dos deuses;
consílio-
Conselho;
Tonante-
Júpiter, deus do trovão e divindade suprema;
neto
do velho atlante- Mercúrio, mensageiro dos deuses.
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21-
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Deixam dos Sete
Céus o regimento,
que do poder
mais alto lhe foi dado,
Alto Poder,
que só c'o pensamento
governa o Céu,
a Terra e o Mar irado.
Ali se acharam
juntos num momento
os que habitam
o Arcturo congelado
e os que o
Austro têm e as partes onde
a Aurora
nasce e o claro Sol se esconde.
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regimento-
governo;
Alto
Poder- poder divino (de Júpiter);
Arcturo
congelado- Norte, Árctico;
Austro-
Sul;
partes
onde a aurora nasce e o claro Sol se esconde- Oriente e Ocidente.
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22-
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Estava o Padre
ali, sublime e dino,
que vibra
os feros raios de Vulcano,
num assento
de estrelas cristalino,
com gesto alto,
severo e soberano;
do rosto respirava
um ar divino,
que divino
tornara um corpo humano;
com ua
coroa e ceptro rutilante,
de outra pedra
mais clara que diamante.
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Padre-
Pai, Júpiter;
dino-
digno;
que
vibra os feros raios de Vulcano- (Vulcano, filho de Júpiter,
forjava os raios que o Pai arremessava);
ua-
uma.
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23-
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Em luzentes
assentos, marchetados
de ouro e de
perlas, mais abaixo estavam
os outros Deuses,
todos assentados
como a Razão
e a Ordem concertavam
(precedem os
antigos, mais honrados,
mais abaixo
os menores se assentavam);
quando Júpiter
alto, assi dizendo,
cum
tom de voz começa, grave e horrendo:
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marchetados-
incrustados;
perlas-
pérolas;
concertavam-
mandavam, justificavam;
mais
honrados- mais veneráveis;
cum-
com um;
horrendo-
que infunde temor ou respeito.
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