Mensagem
 
 
por Fernando Pessoa
 
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  ilustrada por Carlos Alberto Santos
 
, anotada por João Manuel Mimoso
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  - Sobre a origem destas páginas
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Notei que embora haja sobejas edições d'Os Lusíadas comentadas, explicadas ou anotadas, outro tanto não sucede com Mensagem o que é surpreendente dada a sua importância capital na literatura portuguesa. Justificava-se, assim, em benefício dos estudantes mais jovens, a explicação de alguns termos, o enquadramento de expressões mais obscuras e o esclarecimento de referências a acontecimentos históricos ou pormenores mitológicos.

Além disso deparei com uma tradução de Mensagem em lingua estrangeira que evidenciava claramente que o sentido de diversas passagens tinha escapado ao tradutor. Esse facto demonstrou-me que o texto poderia ser, para os estrangeiros que dominem suficientemente o português para o ler, bastante mais complexo do que nos parece a nós que o lemos na lingua materna.

E foi assim que me apercebi do eventual interesse dum trabalho neste campo e decidi disponibilizar na Web a minha própria tentativa de comentário e explicação de cada poema individual, dedicando-o aos amantes da poesia portuguesa e, particularmente, aos jovens estudantes.

Além da beleza da generalidade dos poemas de Mensagem, fui muito inspirado pela força de diversos óleos e guaches de Carlos Alberto Santos que escolhi para os ilustrar. Agradeço ao artista a licença para utilizar imagens de trabalhos seus e -o que poucos artistas permitiriam- a autorização para manipular três das imagens, adaptando-as a poemas para que não tinham sido pensadas.

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  Um comentário geral a Mensagem ou à maior parte dos seus poemas não apresenta particular dificuldade. No entanto a anotação individual de cada um já é (pelo menos para mim) um desafio considerável, sobretudo por não conhecer exemplos de tentativas semelhantes em que me possa apoiar. Os problemas que se levantam são de três tipos básicos: as referências (a factos históricos ou a mitologia); a utilização de termos de sentido dúbio; e finalmente as alegorias subjacentes a alguns textos. Se quanto aos primeiros posso garantir com certo à-vontade a interpretação que dei (por exemplo, não se me colocam dúvidas de que "Noite" se refere materialmente ao drama dos irmãos Corte-Real) e quanto aos segundos a ocorrência de termos dúbios não é relevante (por exemplo o significado de "haste" no poema "Viriato"), no caso dos terceiros já muito haveria a dizer. Quando, por exemplo, em "D.Tareja" o poeta diz, dirigindo-se à mãe de Afonso Henriques "onde estás e não há o dia" a minha interpretação é "no reino dos mortos" mas outros poderão ter uma leitura diferente. E isto é tanto mais provável quanto mais rico o poema seja em referências potencialmente obscuras... Só Pessoa poderia, em absoluto, desfazer dúvidas! Ele próprio escreveu, aliás, que para interpretar escrita simbólica é necessária simpatia (pelo símbolo); intuição; inteligência; compreensão; e aquilo a que eu chamarei a "Mão de Deus". Não espante, portanto, que a interpretação seja uma função grandemente pessoal. A que vos ofereço é estritamente a minha.
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  Os estudantes da lingua portuguesa terão certamente dificuldades em abordar directamente a poesia de Pessoa. Por isso quiz incluir uma tradução inglesa de, pelo menos, alguns dos poemas de Mensagem que, por assim dizer, abrisse as portas e facilitasse aos anglófonos a leitura do original. Como não encontrasse na Web traduções que me satisfizessem inteiramente, quer por discordar de algumas passagens ou termos capitais, quer ainda porque os fins didácticos aconselhavam traduções tanto quanto possível literais, decidi-me pela abordagem directa. É assim que a generalidade dos poemas de Mensagem que considero mais interessantes incluem, em adenda, uma versão inglesa que escrevi após a leitura da tradução dada pelo Prof. Mike Harland de Glasgow. Curiosamente, a necessidade de analisar o significado individual de versos e palavras conduziu-me a rever a interpretação que tinha dado a determinadas passagens de alguns poemas. A tradução inglesa, cuja revisão agradeço à Mary Mun, foi assim de grande valor para a própria anotação de cada poema.
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  Antes de iniciar a leitura, um aviso necessário: sou licenciado em Engenharia e fui professor de Matemática e de Física. A minha cabeça não funciona como as dos especialistas em Letras ou Psicologia. Não vejo simbolismos num texto para além dos que o autor evidentemente introduziu - por razões de estilo ou outras - e não perco tempo com teorias ou hipóteses que não possam ser razoalmente comprovadas ou de que não resulte valor acrescentado. Por isso os meus comentários podem parecer secos e descoloridos comparados com os dos especialistas nestas matérias. Não tenho pretensão a cultura particular em Poesia, Mitologia ou Lingua Portuguesa e o que vos ofereço está à vista... tal como, parece-me, a generalidade do conteúdo de, pelo menos, as duas primeiras partes de Mensagem.
 
Joao Manuel Mimoso (2003-12-22)
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