OBRAS LITERÁRIAS DE AUTORES PORTUGUESES
      
- Num livrinho comemorativo do 14º aniversário (Março de 1962), de que foram impressos apenas alguns exemplares para os funcionários e outras pessoas ligadas à editora, um texto surpreendente informa que a Agência Portuguesa de Revistas adquirira já os direitos de 250 obras literárias de autores portugueses... Inicialmente puz em causa a exactidão da afirmação. No entanto José Antunes, antigo desenhador da Agência, informou-me possuir cópia de um livro policial supostamente de autor estrangeiro mas que tinha sido escrito por José de Oliveira Cosme. Na presunção de que uma autoria estrangeira seria favorável para as vendas, os verdadeiros autores destes livros apareciam frequentemente como seus tradutores enquanto que se utilizava um nome inglês ou francês como sendo do autor. No caso em apreço tratava-se do Nº5 da Colecção Negra, "Uma bala no coração", cujo autor nominal era "Jim O'Connor" mas cujo verdadeiro autor foi José de Oliveira Cosme, como comprova a citada dedicatória. Algumas vezes os autores indiciavam a sua verdadeira identidade através do pseudónimo que escolhiam como, neste caso, as iniciais "JOC" comuns ao verdadeiro nome do autor e ao pseudónimo.
      

Depois de examinar algumas centenas de livros publicados entre 1956 e 1964 concluí que o número de originais de ficção atribuíveis a autores portugueses publicados pela Agência nesse período era realmente da ordem de grandeza indicada no texto que reproduzo à esquerda. Destes, cerca de metade são da autoria de Alice Ogando, sob o seu próprio nome ou sob algum dos pseudónimos que utlizava. A generalidade destes livros está correctamente atribuída nos ficheiros da Biblioteca Nacional. Dos restantes, cerca de dois terços foram escritos sob o verdadeiro nome do autor ou estão também correctamenbte atribuídos por terem sido escritos sob pseudónimos conhecidos. Restam ainda algumas dezenas de originais, até agora atribuídos a autores estrangeiros mas que são realmente de autores nacionais e que interessa, portanto, salvar para a bibliografia portuguesa. Estes incluem romances de amor, policiais, espionagem, e "cowboys" e constituem um interessante património, não de "romances de cordel", como seria fácil classificá-los, mas de ficção portuguesa, criativa, cuja qualidade, apesar de variável, inclui obras de inegável mérito.

Um exemplo típico é o seguinte: existem seis livros publicados pela Agência (cinco de cowboys e um de espionagem) cujo autor nominal é Gilfred S. Os livros não indicam copyright estrangeiro ou título original. Consultado o serviço 118 concluí que apenas havia um "Gilfred S." em Portugal, precisamente Gilfredo Salgueiro Costa que confirmou ser o autor dos seis livros!

      

O processo de procura de autores e produção de livros pode ser sintetizado como segue: Mário de Aguiar começou por incentivar as pessoas que trabalhavam para a Agência (redactores, tradutores, colunistas e colaboradores eventuais) a submeter originais e a espalhar a informação de que se procuravam autores. Foi assim que Milai Bensabat escreveu o seu único romance "Nunca é tarde" e que redactores como Fernando Santos, Ferro Rodrigues, Maria Carlota Álvares da Guerra e o próprio José de Oliveira Cosme produziram trabalhos literários de fôlego. No caso de Gilfredo Costa a informação chegou-lhe através de Raul Correia co-fundador do semanário infantil Mosquito, autor, e tradutor da Agência. Os originais submetidos que fossem aceites eram pagos a 2.500$00 cada ( naquela época uma quantia da ordem de grandeza do salário mensal de um empregado do comércio). Os originais eram lidos e corrigidos por um dos revisores da Agência (nalguns casos pelo próprio director literário José de Oliveira Cosme) após o que eram publicados. Foi provavelmente Raul Correia quem também conduziu para a Agência Pedro Alves de Carvalho, contista e romancista de mérito que escrevia sob o pseudónimo "Pedro de Sagunto" e que já colaborara com o Mosquito nas duas décadas anteriores.

A Crónica Feminina também servia de plataforma para identificação de autores através das contistas que colaboravam na revista. Em 1960 a Crónica Feminina iniciou mesmo uma secção chamada "Tentativas Literárias" onde se apreciavam contos e poemas enviados pelas leitoras e que, presumivelmente, poderia servir para identificar novos talentos. Não se sabe se terá sido encontrada alguma nova romancista mas o grande afluxo de propostas medíocres deve ter sido desanimador e a rubrica foi cancelada no ano seguinte.

A acção da Agência e, em particular, de Mário de Aguiar pode, neste caso, ser resumida assim: graças à política de incentivo dos autores nacionais que prevaleceu durante alguns anos a bibliografia portuguesa ganhou mais de duas centenas de novos títulos de vários géneros (incluindo o policial, que tem um público vasto e fiel) e sobretudo ganhou vários novos romancistas. Milai Bensabat só escreveu aquele único livro (editado como Nº 1 da Colecção Violeta) e Gilfredo Costa revelou-se com o primeiro livro que escreveu para a Agência e, finda essa colaboração, nunca mais escreveu qualquer outro romance. Outros houve que se estrearam com um romance comprado pela Agência e com ele iniciaram uma carreira literária. O importante é que durante um curto periodo dourado houve quem comprasse a produção literária popular em Portugal e assim a promovesse e incentivasse, tal como sucedia nos Estados Unidos, em França, ou em Espanha ... durante esse periodo qualquer amador talentoso podia ter a sua oportunidade!

      
Índice (incompleto) de livros de autores portugueses publicados pela Agência até 1964 (com alguns títulos até 1968):
      
EM CONSTRUÇÃO

° Colecção Cristal

° Colecção Amorzinho

° Colecção Vénus

° Colecção Violeta

° Colecção Romances de Amor

° Colecção Rosa

° Colecção Negra

° Colecção Detective

° Colecção Serviço Secreto

° Colecção Bisonte

° Colecção Bufalo

° Colecção Arizona

° Outras (várias)

agradecem-se contactos de antigos autores da APR bem como quaisquer informações (Joaom.mimoso@gmail.com)

      
  
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