Ficção Científica em Portugal

uma introdução pessoal ao tema

     
 

A história começa numa noite qualquer dos finais de Maio de 1962, quando o meu Pai me levou à Feira do Livro de Lisboa. Durante a década de 1950 os cerca de 30 pavilhões da Feira eram instalados no Rossio, precisamente no caminho entre a casa dos meus pais, na Rua do Ouro, e a Escola 78, na Praça da Figueira. Mas agora tínhamos que subir o primeiro quarteirão da Avenida da Liberdade para lá chegar e por isso eu, ainda muito criança, tinha que ir acompanhado. A vantagem era que podia olhar esperançadamente os pavilhões onde se vendiam números antigos d'O Pato Donald e do Mickey, da Editora Abril, descontados respectivamente de 2$50 e de 3$50 para dez ou quinze tostões. Ou os envelopes-surpresa com três a seis revistas da Ebal ou da Agência Portuguesa de Revistas ainda mais descontados. Tive a sorte de nascer numa família pobre mas nestas ocasiões havia sempre orçamento para uma pequena extravagãncia....

     
 

Nessa noite de Primavera, o meu olhar vagueou por um stand onde se alinhava um conjunto de lombadas de cores variadas, espécie de arco-íris que para uma criança que tinha uma atracção natural pelas cores era inultrapassável. Tratava-se do stand da Editora "Livros do Brasil" e da colecção "Argonauta". Noutra prateleira, as lombadas brancas da "Colecção Vampiro" não me atraíram minimamente. Pergunto-me o que seria o destino se, pelo contrário, as lombadas da Vampiro fossem coloridas e as da Argonauta brancas...

As capas eram tão chamativas como as lombadas e convenci o meu Pai a comprar-me um dos coloridos livros: o nº 2 - "O estranho mundo de Kilsona", já que o nº 1 estava esgotado. E este facto foi outro acaso fatídico: quando li o nº 1, alguns anos mais tarde, fiquei decepcionado com a infantilidade do argumento. Se o nº 1 estivesse disponível naquela ocasião talvez o meu interesse pela ficção científica nunca tivesse ganho raizes.

    Mais tarde comprei e li todos os números da Argonauta até ao 150 mas logo que ganhei à-vontade com o idioma inglês, mudei-me para as edições originais e deixei de me interessar pelas traduções portuguesas. Mas mesmo assim fui adquirindo a generalidade da produção nacional até ao início da década de 1970, altura em que, com o início da actividade laboral, tive outras preocupações e, agora independente, enfrentei alguns anos de penúria até me afirmar profissionalmente (apesar disso, os anos de penúria podem ser, em perspectiva, os mais felizes de todos).
   
    Deixo aos leitores alguns documentos gráficos e notas sobre as primeiras décadas da ficção científica e da antecipação em geral, em Portugal. Não menciono as edições dos livros de Jules Verne, por serem demasiadamente conhecidas, e de Emílio Salgari apenas focarei um livro cuja acção se conclui em Lisboa. Tentarei tratar todas as colecções portuguesas, originais ou traduzidas, das décadas de 1950 e 1960 bem como os romances isolados. Em relação à Argonauta, que marca o ponto de viragem na divulgação do género em Portugal, existem já sites, textos, e colecções de imagens que não quero repetir. Focarei, então, outros aspectos pouco mencionados ou conhecidos, bem como curiosidades ligadas aos primeiros números da colecção.
   
   

Ofereço aos leitores as memórias que conservo, alguns comentários e imagens de parte da minha biblioteca. Algumas (poucas) estarão marcadas apenas para evitar a prática de ligarem blogs às imagens alheias, usando a minha largura de banda sem sequer creditarem o site de origem.

Não tenho qualquer interesse pessoal e, na verdade, pago este site (não é um blog- é um site!) do meu bolso para que os leitores o possam consultar sem o aborrecimento da publicidade. Tudo o que posso contar ou quero oferecer estará aqui. Durante alguns anos vou viver com os minutos contados e portanto agradeço que não me contactem pedindo outras informações e, sobretudo, perguntando-me se tenho livros para venda.

Dito isto, divirtam-se!

João Manuel Mimoso, 13 de Novembro de 2011

   
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