Passos
da Cruz (VII )
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por Fernando
Pessoa
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Nota:
antes dos comentários leia integralmente o soneto!
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Fosse eu apenas, não sei onde ou como, Uma coisa existente sem viver, Noite de Vida sem amanhecer Entre as sirtes do meu doirado assomo… |
sirtes - obstáculos à navegação (bancos de areia ou corais) que podem encalhar um navio; escolhos; assomo - lembrança, recordação, memória. |
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Fada maliciosa ou incerto gnomo Fadado houvesse de não pertencer Meu intuito gloriola com ter A árvore do meu uso o único pomo… |
Fada maliciosa ou incerto gnomo fadado houvesse de não pertencer - uma fada com tendência para o mal ou um génio volúvel me destinassem a ser solitário, a não pertencer a qualquer grupo; meu intuito gloriola com ter a árvore do meu uso o único pomo - a minha finalidade é servida (orgulha-se) por eu ser ser diferente dos outros, único. |
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Fosse eu uma metáfora somente Escrita nalgum livro insubsistente Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,
Mas doente, e, num crepúsculo de espadas, Morrendo entre bandeiras desfraldadas Na última tarde de um império em chamas…
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metáfora - alegoria; livro insubsistente - livro sem valor; de alma em outras gamas - que pensasse de maneira diferente de mim; que abordasse temas diferentes dos meus; com outro estilo. e, num crepúsculo de espadas, morrendo entre bandeiras desfraldadas na última tarde de um império em chamas - (Ahhh- digam ahhh também!- que bonito!!) a frase refere-se ao ideal de, mesmo que se tenha uma vida apagada (uma coisa existente, sem viver), acabá-la em grandeza- como se liderasse a última e desesperada carga da última batalha de uma guerra perdida (há algumas situações assim no ciclo do Senhor dos Anéis e inevitavelmente dou comigo a pensar "gostava de estar ali..."). |
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João
Manuel Mimoso
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Lisboa, Portugal
2007-07-11
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