MENSAGEM de Fernando Pessoa; Terceira Parte- O ENCOBERTO
Terceiro- OS TEMPOS
Segundo- TORMENTA
.Ouça aqui o poema (para estudantes de português) Ilustração de Carlos Alberto Santos
TORMENTA
Que jaz no abysmo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.

 

Isto, e o mystério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, pharol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar 'scuro 'struge.

Comentários:

"a noite é o fausto do mistério"- a noite é a pompa do desconhecido; é de noite que o desconhecido assume toda a sua grandeza (ou é mais terrível)..

"o relâmpago, farol de Deus, um hausto brilha"- o relâmpago reluz por um instante (literalmente: pelo tempo de uma inalação rápida). "e o mar escuro estruge"- o mar estrondeia (faz um estrépito muito alto).

Apesar da ilustração que escolhi, o poema é sobre uma tormenta simbólica: a agitação íntima de Portugal que, segundo Pessoa, aspira ser a nação do Quinto Império. E no negrume da ignorância do Seu desígnio, Deus indica-o por um breve instante (supostamente através do próprio F. Pessoa que seria, assim, o "farol de Deus").

..Ouça aqui o poema (para estudantes de português) .
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Lisboa, Portugal. Dezembro 20, 2003
 
Revisto Janeiro 13, 2004
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João Manuel Mimoso
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English version

An introduction to the poem: Albeit the illustration chosen by me, this poem- my personal favourite from this Cycle- is about a symbolic storm: that of Portugal wanting to be the nation of the Fifth Empire but not knowing the way (because The Yearned-for has not yet arisen). But a lightning bolt shines briefly in the night: God is showing the way and his beacon is Fernando Pessoa himself!

Storm

What lies in the abyss beneath the sea that rises up?
We, Portugal, the possibility of becoming.
What restlessness from the depths lifts us up?
The wish to be able to become.

 

This, and the mystery of which night is the splendour.
But suddenly, where the wind roars,
A lightning bolt, beacon of God, for a moment
Shines and the dark sea thunders.

 

Para uma discussão muito breve do simbolismo deste poema inserido no conjunto d'Os Tempos ver a minha introdução a "O Encoberto".