MENSAGEM de Fernando Pessoa; 1ª Parte-BRAZÃO
III- As Quinas
Segunda- D.FERNANDO INFANTE DE PORTUGAL
.NOVO: ouça aqui o poema (para estudantes de português) Ilustração de Carlos Alberto Santos
D.FERNANDO INFANTE DE PORTUGAL
Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua sancta guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

 

Poz-me as mãos sobre os hombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-grandeza são Seu nome
Dentro em mim a vibrar.

 

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

Comentários:

Este poema, sem dúvida um dos mais belos de Mensagem, foi o primeiro a ser escrito (em 1913) e destinava-se a servir de mote a um livro que Fernando Pessoa pensou chamar "Portugal". O conteúdo incluiria, pelo menos, o equivalente às duas primeiras Partes de Mensagem, mas a índole talvez não tivesse sido integralmente afim. Este poema, inicialmente chamado "Gládio", foi rebaptizado mas não está totalmente sintonizado com o seu novo nome. É provável que tenha sido originalmente escrito com D.Sebastião em mente.

O D.Fernando referido no poema é o Infante Santo, que morreu refém em Marrocos.

O gládio era uma espada curta como as utilizadas pelos gregos e pelos romanos. A sonoridade da palavra era muito apreciada pelos autores italianos, espanhóis e portugueses que a usavam amiúde designando uma espada de qualquer tipo ou, simplesmente, o seu equivalente simbólico.

NOVO: ouça aqui o poema (para estudantes de português)
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Lisboa, Portugal. Setembro 03, 2003
 
Revisto Agosto 21, 2007
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João Manuel Mimoso
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English version

An introduction to the poem: Written in 1913, this beautiful poem was the very first of the set that would one day become Mensagem. It was originally published as "Glaive" and was likely written as a simple allegory, without a personality in mind (although, on noticing that it is applicable to King Sebastian, one wonders...). For Mensagem it was renamed "D. Fernando Infante de Portugal" and now remembers Prince Henry's brother who in 1437 sailed under his command for a failed attempt to seize Tangiers. He died a captive in Morocco, six years later, and subsequently became known as "The Holy Infante". As a symbol of martyrdom and of the high price that has to be paid for expansion, he gained his place in Mensagem as one of the "quinas" in the Portuguese coat of arms.

Fernando, Infante of Portugal

God gave me his glaive for me to wage
His holy war.
He made me his own in honour and disgrace,
At the time when a cold wind blows
Over the cold land.

 

He put his hands on my shoulders and gilded
My brow with his gaze;
And this fever for the Beyond that consumes me,
And this want for greatness, are His name
Throbbing inside me.

 

And I go forth and the light of the glaive aloft glints
On my calm countenance.
Full of God, I fear not what will come,
Because come what may, it will never be
Greater than my spirit.