OS CROMOS NO URUGUAI
 

Com quase duas vezes o tamanho de Portugal, o Uruguai seria um pais de média dimensão pelos padrões europeus, no entanto parece pequeno por comparação com os dois gigantes (Brasil e Argentina) que com ele têm fronteiras. Esta sensação é reforçada por uma população que é cerca do terço da portuguesa.

No entanto o país gozou de uma situação económica e social invejável durante a maior parte do séc.XX. Essa prosperidade proporcionou riqueza disponível para gastos supérfluos e resultou num caso único, a nível mundial, na história dos cromos: em mais lado algum foram editadas, nos anos 30 e 40, tantas e tão belas colecções para uma população tão diminuta!

Por sorte um historiador e coleccionador desse país invulgar investigou a história dos cromos locais e escreveu um livro que me serviria de modelo se eu tivesse a intenção de escrever um livro sobre os cromos portugueses. Esse livro inclui um catálogo muito completo das edições uruguaias de onde extraí (esperando que, nem o autor, nem os editores se aborreçam com isso...) quatro das ilustrações desta página.

No início foram os cromos cartonados que eram oferecidos com o tabaco (imagem da esquerda). Estes cartões ilustrados são quase sempre anteriores aos cromos dos chocolates e rebuçados e no caso uruguaio são-no em várias décadas.

Algumas tabaqueiras ofereciam albuns para guardar as colecções, bem como brindes aos que as completassem, mas na minha opinião a anterioridade não prova a ascendência, já que há paises com grande produção de tais cartões onde os cromos tais como nós os conhecemos nunca apareceram.

Os verdadeiros cromos em papel fino, ofertados por produtos alimentícios (em geral guloseimas) para as crianças e jovens coleccionarem em cadernetas especiais são, em geral, lançados num país por um precursor que catalisa a oferta: o sucesso deste primeiro inovador resulta na rápida sequência de concorrentes (muitas vezes imitadores) que pretendem ganhar uma quota do novo mercado assim criado. Por isso, o estilo do primeiro modela frequentemente os padrões do mercado, já que os seguidores têm tendência para não fugir ao estilo já estabelecido.

No caso do Uruguai, o precursor foi a multinacional Nestlé cujas colecções, com origem na Suiça, se caracterizavam pelo eclectismo dos temas, cada um dos quais era tratado numa série de 12 cromos que preenchiam uma página do album. A primeira colecção Nestlé foi lançada em 1928 (simultaneamente no Uruguai e na Argentina) enquanto que a primeira colecção uruguaia (no mesmo estilo de séries de 12 cromos, cada qual de seu tema) foi lançada pelos chocolates Águila em 1932. Acima, à direita, página de uma colecção Nestlé editada em Espanha, e ao lado, página da primeira colecção uruguaia dos chocolates Águila (ambas da minha colecção). Ao contrário do que sucedeu em Portugal onde a Nestlé não lançou colecções, o eclectismo e a dúzia de cromos temáticos em cada página iria caracterizar a produção uruguaia durante duas décadas.

Para se ter uma noção da variedade e da riqueza do cromo uruguaio, o livro "El álbum de figuritas, cien años en el Uruguay" de Marcos Silvera Antúnez, lista cerca de 130 colecções de cromos de tabaco e 330 colecções de cromos autênticos (oferecidos por chocolates e rebuçados ou vendidos em envelopes surpresa) datadas. Destas são ilustradas 200 capas (exemplos à direita) além de muitos cromos isolados e páginas completas de albuns uruguaios. Foram editados cerca de 100 albuns até à entrada no mercado das colecções espanholas. Muitos destes albuns correspondem a temas locais e são de grande beleza e originalidade. Arriba Uruguay!!
Ir para o índice de "CROMOS"... Joao-M. Mimoso; Lisboa, 2003.05.14
Agradecimentos: à Odete Fernandes que me trouxe este livro da Argentina por uns modestissimos trinta e tal US$ (o dinheiro mais bem gasto dos ultimos anos!).