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5-
ÚLTIMA NAU (de Fernando Pessoa)
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Voz 1 |
Levando
a bordo El-Rei Dom Sebastião,
E erguendo,
como um nome, alto, o pendão
Do Império,
Foi-se a
última nau, ao sol aziago
Erma, e
entre choros de ânsia e de presago
Mistério.
Não voltou
mais. A que ilha indescoberta
Aportou?
Volverá da sorte
incerta
Que teve?
Deus guarda
o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua
luz projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto
mais ao povo a alma falta,
Mais a minha
alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim,
num mar que não tem tempo ou espaço,
Vejo entre
a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei
a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a
Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao
sol em mim, e a névoa finda:
A mesma,
e trazes o pendão ainda
Do Império.
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Carrying
aboard King Don Sebastian,
And raising
atop, like a motto, the pennant
Of Empire,
The last
galleon sailed away, under a sun of ill-omen
Forsaken,
'mid weeping of anxiety and ominous
Mystery.
It never
returned. To what undiscovered island
Did it
call? Will it ever return from the unknown fate
It met?
God hides
the body and the shape of the future
But His
light projects it, a dream clouded
And brief.
Ah, the
more the people is dispirited,
The more
my Atlantic soul lifts up
And overspreads,
And in
me, in a sea without time or space,
I see through
the thick fog your dim outline
Returning.
I know
not the hour, but I know there is one,
Even if
God delays it, or the soul calls it
Mystery.
You rise
in the sun within me and the mist ends:
The same,
and you are still carrying the pennant
Of Empire.
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2007, September
03
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