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FROM POETRY (read about
it)
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1-TABACARIA
(de Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos)
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Voz 1 |
Não sou nada.
Nunca serei
nada.
Não posso querer
ser nada.
À parte isso,
tenho em mim todos os sonhos do mundo.
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I am nothing
I shall never be anything
I cannot wish to be anything.
Aside from that, I have within me
all the dreams of the world.
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Voz 1 |
Janelas do meu
quarto,
Do meu quarto
de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem
quem é, o que saberiam?),
Dais para o
mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua
inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente
real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério
das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte
a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino
a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
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Windows of my room,
The room of one of the world's millions
nobody knows about
(And if they knew about me, what would
they know?)
You open onto the mystery of a street
continually crossed by people,
A street inaccessible to any thought,
Real, impossibly real, certain, unknowingly
certain,
With the mystery of things beneath
the stones and beings,
With death making the walls damp and
the hair of men white,
With Destiny driving the wagon of
everything down the road of nothing.
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Voz 1 |
Estou hoje vencido,
como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido,
como se estivesse para morrer,
E não tivesse
mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida,
tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de
carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da
minha cabeça,
E uma sacudidela
dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
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Today I am defeated, as if I knew the
truth.
Today I am clear-minded, as if I were
about to die
And had no greater kinship with things
Than to say goodbye, this building
and this side of the street becoming
A row of train cars, departing at
the sound of a whistle
Blowing from inside my head,
And a jolt to my nerves and a creak
of bones as we go.
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Voz 1 |
Estou hoje perplexo,
como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido
entre a lealdade que devo
À Tabacaria
do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação
de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
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Today I am bewildered,
as one who wondered and discovered and forgot.
Today I am
torn between the loyalty I owe
To the outward
reality of the Tobacco Shop across the street
And to the
inward reality of my feeling that everything is but a dream.
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Voz 1 |
Falhei em tudo.
Como não fiz
propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem
que me deram,
Desci dela
pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao
campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei
só ervas e árvores,
E quando havia
gente era igual à outra.
Saio da janela,
sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
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I failed in
everything.
Since I had
no aims, maybe everything was indeed nothing.
What I was
taught,
I climbed out
of that, down from the
window at the back of the house.
I went to the
countryside with grand plans,
But all I found
there was grass and trees,
And when there
were people, they were just like the others.
I step back
from the window and sit in a chair. What should I think about now?
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Voz 1 |
Que sei eu do
que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos
que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste
momento
Cem mil cérebros
se concebem em sonho génios como eu,
E a história
não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá
senão estrume de tantas conquistas futuras.
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What do I know
of what I shall be, I who do not know what I am?
Be what I think
I am? But I think of so many things!
And there are
so many who think to be the same thing- there can’t be that many!
Genius? At this
moment
A hundred thousand
minds dream themselves geniuses like I do,
And history
will not register, who knows? not even one,
Nor will it
remain but manure from so many future conquests.
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Voz 1 |
Não, não creio
em mim.
Em todos os
manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não
tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em
mim...
Em quantas mansardas
e não-mansardas do mundo
Não estão nesta
hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações
altas e nobres e lúcidas —
Sim, verdadeiramente
altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe
se realizáveis,
Nunca verão
a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
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No, I do not
believe in myself.
In every mental
asylum there are mad deranged people with so many certainties!
I, who do not
have any certainties, am more or less right?
No, not even
in myself
In how many
garrets and non-garrets of the world
Are not there
geniuses dreaming unto themselves?
How many aspirations
high and noble and lucid-
- yes, truly
high, noble and lucid-
And, who knows,
maybe accomplishable,
Will never see
the light of the real sun, nor be heard by human ears?
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Voz 1 |
O mundo é para
quem nasce para o conquistar
E não para
quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado
mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado
ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito
filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e
talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não
more nela;
Serei sempre
o que não nasceu para isso;
Serei sempre
só o que tinha qualidades;
Serei sempre
o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a
cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz
de Deus num poço tapado.
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The world is
for those born to conquer it
And not for
those who dream they can conquer it, even though they may be right.
I have dreamt
more than Napoleon accomplished;
I have clasped
to my hypothetical breast more humanity than Christ;
I contrived
philosophies in secret that no Kant ever wrote.
But I am, and
maybe I shall always be, the one in the garret,
Even if I dont
live in one;
I shall always
be the one who was not born for that;
I shall always
be only the one who had (good) qualities;
I shall always
be the one who waited for the door to be opened by a doorless wall,
And sang the
song of the Infinite in a chicken-house,
And heard the
voice of God inside a plugged well.
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Voz 1 |
Crer em mim?
Não, nem em nada.
Derrame-me
a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol,
a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que
venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos
das estrelas,
Conquistamos
todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos
e ele é opaco,
Levantamo-nos
e ele é alheio,
Saímos de casa
e ele é a terra inteira,
Mais o sistema
solar e a Via Láctea e o Indefinido.
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Believe in myself?
No, nor in anything.
May Nature pour
over my ardent head
Its sun; its
rain, the wind that finds my hair.
And the rest
that may come if it comes, or if it has to come, or if it has not.
Cardiac slaves
to the stars,
We conquer the
world even before we rise from bed;
But we wake
up and it is opaque,
We get up and
it is alien,
We go out and
it is the whole Earth,
Plus the Solar
System and the Milky Way and the Indefinite.
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Voz 1 |
(Come chocolates,
pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as
religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena
suja, come!
Pudesse eu
comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso
e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo
para o chão, como tenho deitado a vida.)
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(Eat your chocolates,
little girl;
Eat your chocolates!
Believe me, there are no metaphysics in the world other than chocolates;
Believe me,
all the religions together do not teach more than the candy-shop.
Eat, dirty girl,
eat!
I wish I could
eat chocolates as earnestly as you!
But I think
and, on peeling the silvery paper, which is made from tin foil,
I drop it all
to the ground, as I have done with my life.)
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Voz 1 |
Mas ao menos
fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia
rápida destes versos,
Pórtico partido
para o Impossível.
Mas ao menos
consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos
no gesto largo com que atiro
A roupa suja
que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa
sem camisa.
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But at least
it remains from the sorrow of what I shall never be
The rapid calligraphy
of these verses,
Collapsed portico
to the Impossible.
But at least
I confer upon myself a tearless contempt,
Noble at least
in the grand gesture with which
I throw the
dirty laundry that is me, in a washing-list, unto the course of things,
And stay home
shirtless.
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Voz 1 |
(Tu que consolas,
que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega,
concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia
romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa
de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa
do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocotte
célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei
quê moderno — não concebo bem o quê —
Tudo isso,
seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
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(You who comfort,
who do not exist and therefore comfort,
Either Greek
godess, conceived as a living statue,
Or else Roman
patrician, impossibly noble and baneful,
Or princess
sung by troubadours, most charming and colourful,
Or eighteenth
century marquise, décolletée and distant,
Or celebrated
courtesan from the time of our parents,
Or modern whatever-
I dont really know what-
All that, whatever
you may be, inspire if you can!
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Voz 1 |
Meu coração
é um balde despejado.
Como os que
invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo
e não encontro nada.
Chego à janela
e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas,
vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes
vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães
que também existem,
E tudo isto
me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto
é estrangeiro, como tudo.)
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My heart is
a bucket that was emptied.
As those who
invoke spirits, summon spirits I summon
Myself and find
nothing.
I go to the
window and see the street with absolute sharpness.
I see the shops,
I see the street-walks, I see the passing cars,
I see the clothed
living beings who cross each other,
I see the dogs
which also exist,
And all this
weighs on me as a sentence of exile,
And all this
is alien, as is everything.
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Voz 1 |
Vivi, estudei,
amei e até cri,
E hoje não
há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada
um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez
nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível
fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas
existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo
para àquem do lagarto remexidamente.
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I lived, studied,
loved and even believed,
And today, there
is no beggar I do not envy simply because he is not me.
I consider in
each one the rags and the sores and the lie,
And I muse:
maybe you never lived, or studied, or loved, or believed
(because it
is possible to construct the reality of it all without actually doing
any of that);
Maybe you merely
existed, like a lizard to which the tail is cut off
And which is
tail a-twisting this side of the lizard.
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Voz 1 |
Fiz de mim o
que não soube
E o que podia
fazer de mim não o fiz.
O dominó que
vesti era errado.
Conheceram-me
logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis
tirar a máscara,
Estava pegada
à cara.
Quando a tirei
e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado,
já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora
a máscara e dormi no vestiário
Como um cão
tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever
esta história para provar que sou sublime.
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I made of myself
what I did not know how,
And what I
could have made of myself I failed to do.
The domino
costume that I wore was all wrong
And I was immediately
recognized as someone I was not and I did not deny it, and was lost.
When I tried
to take off the mask,
It was stuck
to my face.
When I took
it off and looked myself in the mirror,
I had already
grown old.
I was drunk,
and I no longer knew how to put on the costume that I had not taken off.
I threw the
mask away and slept in the dressing room
Like a dog
tolerated by the management
Because it
is harmless.
And I am going
to write this story to prove that I am sublime. .
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Voz 1 |
Essência musical
dos meus versos inúteis,
Quem me dera
encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse
sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos
pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete
em que um bêbado tropeça
Ou um capacho
que os ciganos roubaram e não valia nada.
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Musical essence
of my useless verses,
If only I could
face you as something I had made
Instead of
always facing the Tobacco Shop across the street,
Treading at
my feet the consciousness of existing,
Like a rug
a drunkard stumbles on
Or a doormat
stolen by gypsies and not worth a thing.
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Voz 1 |
Mas o Dono da
Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com
o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto
da alma mal-entendendo.
Ele morrerá
e eu morrerei.
Ele deixará
a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura
morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa
altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua
em que foram escritos os versos.
Morrerá depois
o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites
de outros sistemas, qualquer coisa como gente
Continuará
fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas.
Sempre uma
coisa defronte da outra,
Sempre uma
coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível
tão estúpido como o real,
Sempre o mistério
do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto
ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
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But the Tobacco
Shop owner has come to the door and is standing there.
I look at him
with the discomfort of an half-turned head
Compounded
by the discomfort of an half-grasping soul.
He shall die
and I shall die.
He shall leave
his signboard and I shall leave my poems.
His sign will
also eventually die, and so will my poems.
Eventually
the street where the sign was will die,
And so will
the language in which the poems were written.
Then the whirling
planet where all of this happened will die.
On other satellites
of other systems some semblance of people
Will go on
making things like poems and living under things like signs,
Always one
thing facing the other,
Always one
thing as useless as the other,
Always the
impossible as stupid as reality,
Always the
mystery of the bottom as true as the shadow of mystery of the top.
Always this
thing or always some other, or neither one nor the other.
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Voz 1 |
Mas um homem
entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade
plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me
enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar
escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro
ao pensar em escrevê-los
E saboreio
no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo
como uma rota própria,
E gozo, num
momento sensitivo e competente,
A libertação
de todas as especulações
E a consciência
de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
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But a man has
entered the Tobacco Shop (to buy tobacco?),
And plausible
reality suddenly hits me.
I half rise
to my feet -energetic, sure of myself, human-
And I will
try to write these verses in which I say the opposite.
I light up a
cigarette as I think about writing them,
And in that
cigarette I savor a freedom from all thoughts.
I follow the
smoke as if it were my own trail,
And enjoy,
for a sensitive and adequate moment
The liberation
from all speculation
And the awareness
that metaphysics is a consequence of not feeling well.
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Voz 1 |
Depois deito-me
para trás na cadeira
E continuo
fumando.
Enquanto o
Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse
com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse
feliz.)
Visto isto,
levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu
da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o:
é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da
Tabacaria chegou à porta.)
Como por um
instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus,
gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me
sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
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Afterwards I
lean back in the chair
And keep smoking.
As long as
Destiny allows, I will keep smoking.
(If I married
my washwoman's daughter
I might conceivably
be happy.)
Given this,
I rise and go to the window.
The man has
come out of the Tobacco Shop (putting change into his pocket?).
Ah, I know
him: he is Esteves without methaphysics.
(The Tobacco
Shop owner has come to the door.)
As if by a
divine instinct, Esteves turned around and saw me.
He waved hello,
I shouted back "Hello there, Esteves!" and the universe
Reconstructed
itself to me, without ideals or hope, and the owner of the Tobacco Shop
smiled.
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2007, September 03 |