1963
1963
 

Além de humorista e caricaturista de grande mérito, José Vilhena é um soberbo ilustrador e é pena que não tenha exercido o seu talento na ilustração de obras de outros autores o que nos permitiria, hoje, apreciar o seu tratamento de uma gama mais alargada de temas.

O facto de não trabalhar para clientes garantiu-lhe uma grande liberdade temática e estilística mas teve, no entanto, uma outra consequência notória: a quantidade e a qualidade das ilustrações oscilaram ao longo do tempo, provavelmente em função de factores pessoais que se desconhecem. É por isso que a periodos de verdadeiro esplendor gráfico se seguiram outros mais apagados, com frequente recurso a fotomontagens ou a ilustrações antigas ou mesmo alheias. Mas quando se nos afigurava um fatal declíneo, eis que surgia um novo periodo de exuberância ilustrativa que devolvia um artista renovado.

Pessoalmente creio que, como ilustrador, a primeira metade dos anos 60 e a última dos 70 foram as suas melhores épocas, talvez por eventualmente(?) atravessar periodos de felicidade pessoal e de optimismo.

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1979-clique na imagem

 

 

As ilustrações de Vilhena caracterizam-se por um estilo imediatamente reconhecível: grande facilidade em desenhar todos os aspectos da figura humana (e quando digo "todos" quero dizer mesmo todos), mulheres sumptuosas e sem mácula, e detalhes faciais de dimensões exageradas e caricaturais.

Caracterizam-se, também, por uma predilecção pela pose e pelas representações planas. As personagens estão, ou como que em posição para ser fotografadas, ou então são capturadas num momento de quase imobilidade.

No entanto nunca são rígidas e quando a situação o exige o ilustrador não parece ter problemas em utilizar a perspectiva (como na segunda capa de O Mundo Ri reproduzida acima) ou em transmitir o movimento das figuras (como na capa da Gaiola Aberta de 1979, ao lado, em que o grupo de eclesiásticos invectivando o nudismo é um exemplo de técnica mista com Vilhena no seu melhor).

As duas ilustrações seguintes, ambas para as páginas centrais de números da Gaiola Aberta publicados em 1977, representam, quanto a mim, um apogeu ilustrativo do autor que será muito difícil de ultrapassar.

 
       
Acima: Na drogaria (1977) .
 
 
O gesto é tudo -obscuro concurso da RTP eternizado por esta sátira política .
 

Mas apesar do característico "estilo Vilhena", o ilustrador demonstrou sobejas vezes a sua capacidade para imitar estilos alheios sem dificuldade aparente, bem como de utilisar estilos próprios que não se lhe conheciam.

Recentemente, por exemplo, começaram a aparecer capas em "O Moralista" com esbatidos que denunciam a utilização de técnicas computorizadas (como no exemplo à esquerda) e perguntamo-nos: que mais nos reservará Vilhena no futuro?

Reproduções autorizadas por J.Vilhena.
João Manuel Mimoso
                                         
                                         
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Lisboa, Portugal- 2002-10-10