CARLOS ALBERTO SANTOS | |||||||||
Carlos
Alberto Santos
Por Leonardo De Sá Carlos Alberto Ferreira dos Santos nasceu a 18 de Julho de 1933, em Lisboa, e começou a trabalhar como jovem ilustrador no atelier de publicidade de José David, em 1947. A sua primeira ilustração publicada, a que se seguiram várias outras, aconteceu na revista Camarada nº 11, de 30 de Abril de 1948, acompanhando um conto western de Hermínio Rodrigo da Conceição. A sua estreia nas histórias aos quadradinhos ocorreu ainda aos 16 anos, logo no número inaugural de O Mundo de Aventuras e da própria Agência Portuguesa de Revistas (APR) de Aguiar & Dias, a 18 de Agosto de 1949, com a aventurosa "História Maravilhosa de João dos Mares". O texto era assinado por Augusto Barbosa e os desenhos vinham apenas indicados com a insígnia "D", porque realizados enquanto ainda trabalhava no estúdio de José David. Para aquela editora começou no ano seguinte a preparar a sua primeira colecção de cromos, História de Portugal, encargo que lhe tomou alguns anos de realização. Depois de várias outras obras de ilustração para o Camarada, aí realizou uma segunda banda desenhada de carácter histórico, intitulada "O Escudo do Sarraceno", com novo argumento de Hermínio Rodrigo. A história iniciou-se no nº 116, de 9 de Setembro de 1950, mas ficou interrompida no nº 133, quando a revista suspendeu a publicação, no início do ano seguinte. Em Outubro de 1954, a Editorial Dois Continentes iniciou a colecção de livros de bolso Heróis e Aventureiros, próxima das histórias aos quadradinhos, com o volume Tarzan e a Escrava, adaptado por Luís Anselmo e desenhado por Carlos Alberto a partir do filme Tarzan and the Slave Girl, com Lex Barker. Mais tarde, este tomo foi reeditado pela Livraria Civilização, do Porto. Prosseguindo a sua duradoura colaboração com a APR, decorou as capas figuradas para a colecção Caderno Escolar, igualmente em 1954, e a partir do ano seguinte realizou várias novas histórias aos quadradinhos para o Mundo de Aventuras, a Colecção Audácia, e a adaptação em fascículos quadriculados do romance de Júlio Dinis, Os Fidalgos da Casa Mourisca, que conta com algumas capas da autoria de José Manuel Soares. Este último trabalho foi uma obrigação que pouco lhe agradou... Trabalhando em exclusividade para a APR, executou inúmeras capas para quase todos os títulos da editora - de que se destacam algumas pinturas espectaculares para as revistas Selecções, Policial, Espaço e Guerra, para além do próprio Mundo de Aventuras. Curiosamente, também ilustrou as capas de colecções de fotonovelas que a editora iniciou no final da década de 1950, nomeadamente a Colecção Foto-Novela, que afirmava ser a "primeira revista no seu género que se publica em Portugal". Foi ainda editor responsável da versão nacional da revista infantil espanhola Pumby, em 1970-71. Ainda para o Mundo de Aventuras, teve grande destaque a biografia romanceada em "Camões, Sua Vida Aventurosa", publicada em 1972 no quarto e último volume da série Álbum Especial, com argumento seu e adaptação de José de Oliveira Cosme (e também em versão abreviada na própria colecção principal). Carlos Alberto tinha proposto fazer uma série de aventuras em torno do poeta, mas tal nunca chegou a acontecer. Mais tarde, esse episódio foi reeditado pelas Edições Asa num álbum com nova montagem, colorido pelo artista e por Isabel Silva, sua discípula. Decididamente encaminhado para a ilustração, Carlos Alberto voltou esporadicamente à banda desenhada, à qual reconhece dever a facilidade para desenhar de forma dinâmica e sem modelos. Realizou numa prancha única a aventura cómica e publicitária "O Segredo da Cápsula - Uma Aventura de Tony", para os produtos Diese, publicada no Diário Popular, em 1968. No ano seguinte, compôs para a revista Pisca-Pisca a curta história "O Almirante das Naus da Índia", sob argumento de Olga Alves, mais tarde reeditada no suplemento Mini-Época, do jornal Época, onde também publicou ilustrações. Colaborou com a Editorial Bruguera, de Barcelona, de novo produzindo várias capas e até uma BD, posteriormente reeditada em Portugal pela revista O Pirata, em Outubro de 1976, infelizmente com legendação também de pastilha elástica. Esta história policial intitulava-se "Em Busca de Provas", e foi mais tarde recuperada por Dâmaso Afonso para O Cuco, suplemento do Diário do Sul. Para a Portugal Press de Roussado Pinto, contribuiu também com numerosas capas e ilustrações durante toda a década de 1970, tendo ainda aparecido como director artístico de algumas publicações da editora. Os seus bélicos "Quadros da História de Portugal" surgiram no Jornal do Cuto, e mais tarde também em postais e em álbum. Utilizou então o pseudónimo "M. Gustavo", derivado da sua dedicação à música de Gustav Mahler, pois ainda se encontrava veiculado à APR e não podia assinar com o próprio nome. Para aquela editora, deixou-nos também memoráveis composições eróticas para as várias publicações desse género que começaram a proliferar, depois do 25 de Abril... Para as Edições Asa desenhou uma derradeira narrativa em 1993, intitulada "O Rei de Nápoles", publicada no álbum colectivo Contos das Ilhas, com argumento de Jorge Magalhães, ao lado de três outras histórias ilustradas por Eugénio Silva, José Garcês e Catherine Labey. Assinou durante muitos anos simplesmente com os seus dois primeiros nomes, apenas acrescentando o apelido em tempos mais recentes. A arte de Carlos Alberto Santos tornou-se progressivamente mais decorativa, exercendo nas últimas décadas uma intensa actividade como ilustrador de livros - por exemplo para as editoras Amigos do Livro, Europa-América, Scire/SEL, Ésquilo, Destarte, Elo -, e para autores como Raul Correia, Alice Ogando ou Adolfo Simões Müller. Nos últimos anos do século XX, também iluminou colecções de selos para os CTT, com séries sobre os descobrimentos portugueses, o povoamento dos Açores e as naus da carreira da Índia. Consagrou a sua carreira também intensamente à pintura, realizando uma primeira exposição individual de óleos sobre temas históricos em 1970, na Sociedade Nacional de Belas Artes. Seguiram-se muitas outras mostras e prémios relativos a esta actividade, estando representado em diversas colecções particulares e públicas, nacionais e estrangeiras. ¶ Catálogo da Exposição-Homenagem, Casa Roque Gameiro 22-Outubro a 6 de Novembro de 2005, com autorização do autor | |||||||||
< - 1955 |
\/ - Dez 1957 | ||||||||
< - Ferro Rodrigues, M.Aguiar, C. Alberto, António Dias | |||||||||
\/ - José Antunes e Carlos Alberto Santos | |||||||||
De pé: C.Alberto, Vitoriano Rosa, Raul d'Oliveira Cosme | |||||||||
Em baixo: ?, Abílio Abrantes, José Antunes | |||||||||
Carlos
Alberto Santos e as Colecções de Cromos por João Manuel Mimoso Uma parte relevante da actividade de Carlos Alberto Santos como ilustrador está relacionada com a produção de colecções de cromos. Em Portugal, a história dos cromos como produto comercial individualizado começa com Mário de Aguiar que em 1948 formou, com António Dias, a Agência Portuguesa de Revistas (anteriormente eram oferecidos como incentivo à compra de outros produtos). Os cromos em envelopes-surpresa eram já então conhecidos há mais de uma década, nomeadamente em Espanha, e Mário de Aguiar teve a ideia de lançar uma colecção própria, tendo como tema a História de Portugal. Para a ilustrar escolheu Carlos Alberto Santos que na época era um jovem de 16 anos que trabalhava na Fotogravura Nacional.
Carlos Alberto Santos produziu ainda cinco outras colecções que a Agência Portuguesa de Revistas publicou: Trajos Típicos de Todo o Mundo (206 cromos, 1958)- a primeira colecção pintada a guache, que se tornaria a técnica preferida em todas as produções futuras; História de Lisboa (145 cromos, 1960)- pela sua raridade talvez a mais mítica de todas as colecções de cromos do artista; Camões (124 cromos, 1966); Romeu e Julieta (166 cromos, 1969); e Pedro Álvares Cabral (172 cromos, 1972). Três outras (História Universal - em colaboração com José Antunes- Os Três Mosqueteiros e Robin dos Bosques) foram completadas mas não chegaram a ser publicadas. O último projecto no campo do cromo que Carlos Alberto Santos viria a encetar merece uma menção especial. Tratava-se da edição de um álbum segundo Os Lusíadas de Luís de Camões. A colecção completa teria provavelmente mais de 300 cromos dos quais cerca de 10% seriam cromos duplos. Chegaram a ser ilustradas as estâncias 1 até à 44 do Cântico I através de vinte guaches, dos quais dezoito ainda existem numa colecção particular. Estes demonstram a extraordinária mestria que o artista atingira na arte do cromo e entristecem pela perda do que poderia ter sido a chave de ouro das suas duas décadas de actividade neste campo. Nas três primeiras colecções que desenhou, Carlos Alberto Santos executou originais de pequenas dimensões. Para Camões introduziu o padrão que viria a manter em todas as produções futuras: cada cromo foi desenhado sobre um cartão de formato A5 (aproximadamente 22X15 cm) e pintado a guache. O novo formato permitiu-lhe uma qualidade reminescente dos cromos suíços e alemães do início do século e raramente igualada no campo do cromo comercial. É instrutivo verificar como a subtileza dos tons e a riqueza de pormenores se perdem nas impressões baratas e como, apesar disso, a paixão pela qualidade que no artista é um reflexo da sua natureza o levou a manter um detalhe que o resultado final que chegava às mãos dos coleccionadores dificilmente poderia justificar. Além da produção própria a Agência Portuguesa de Revistas publicou, também, várias dezenas de colecções estrangeiras, tendo Carlos Alberto Santos sido chamado a colaborar na sua adaptação à realidade nacional. De entre as colecções que complementou com novos cromos da sua autoria citam-se Bandeiras do Universo, A Conquista do Espaço, Esquadras de Guerra e Navios e Navegadores. Uma outra colaboração afim consistiu na ilustração das cadernetas de várias colecções de origem vária. Além da capa de Navios e Navegadores Carlos Alberto Santos assinou, entre outras, as capas e contra-capas dos albuns da efémera mas interessante Colecção Clássicos em Miniatura, publicada pela Agência Portuguesa de Revistas em 1973/74. Tratava-se de adaptações de obras literárias incorporando cada uma 60 cromos que reaproveitavam ilustrações executadas cinco anos antes por José Batista para uma colecção de pequenos livros. Ilustrou, assim, três albuns (Oliver Twist; Os Fidalgos da Casa Mourisca; e O Coronel Chabert). As colecções de cromos são muitas vezes subalternizadas em relação aos livros, bastando lembrar quão incompleto é, em relação à totalidade da produção nacional, o património de cadernetas existente na Biblioteca Nacional. Mas as antigas colecções foram, no entanto, um meio privilegiado de formação cultural dos jovens nos anos 50 e 60, quando a televisão ainda tinha uma divulgação limitada e os livros estrangeiros ilustrados a cores só estavam ao alcance de uma pequena minoria. Por isso as produções de Carlos Alberto Santos neste campo assumem uma importância imprevista: a paixão pela exactidão histórica que caracteriza o artista e a sua capacidade de transmitir o conhecimento através de ilustrações esteticamente atraentes cultivou uma geração de crianças portuguesas, a que eu pertenço. E assim conquistaram merecidamente um lugar próprio na memória do século XX e tornaram o artista conhecido junto de muitos milhares de jovens de outrora que, mesmo tendo esquecido o seu nome, relembram no entanto os antigos álbuns de cromos com nostalgia e saudade.¶ in Catálogo da Exposição-Homenagem, Casa Roque Gameiro 22-Outubro a 6 de Novembro de 2005 | |||||||||
^ Plateia nº28 de 15 Fev 1959 | |||||||||
João Manuel Mimoso, 2006-03-30
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