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LÍNGUA PORTUGUESA (de Olavo Bilac)
       
Voz 1  
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

O Lácio (Lazio em italiano) é a província italiana onde se encontra Roma e é tradicionalmente considerada a região onde se originou o latim (cujo nome vem do da própria região: Latium). "Última flor do Lácio" designa o português como a última língua a evoluir do latim. "Inculta" porque deriva da vulgata, um latim simplificado que se falava fora de Itália. "Esplendor" como língua nova; "sepultura" do latim clássico.

Ganga- desperdício da mineração; o que resta depois de extrair, por exemplo, o ouro.
    Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

"Tuba de alto clangor, lira singela"- idioma que serve, tanto para a poesia épica, como para a lírica.

"Que tens o trom e o silvo da procela, e o arrolo da saudade e da ternura"- mesmo conceito. "Trom" é o ruído do disparo de uma peça de artilharia, espécie de bombarda, que tem o som do trovão; "procela" é uma tempestade marítima muito violenta.

    Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Conceito análogo transportado para a linguagem corrente- o poeta continua a enumerar as aplicações do português com uma conotação positiva (viço agreste, aroma de oceano largo) e negativas (rude= difícil, duro; doloroso= veículo de más novas).

    Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Só aqui, o poema falha em que não encerra com uma chave de ouro- os amores de Camões tiveram um brilho incomparável- a eternidade que a sua pena lhes conferiu.
   

 

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2007, September 05
     
  • João Manuel Mimoso