Os Lusíadas de Luís de Camões

ilustrados por Carlos Alberto Santos

Canto I, estâncias 30-32

O Consílio dos Deuses- razões da inimizade de Baco.

30-
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Estas palavras Júpiter dizia,
quando os Deuses, por ordem respondendo,
na sentença um do outro diferia,
razões diversas dando e recebendo.
O padre Baco ali não consentia
no que Júpiter disse, conhecendo
que esquecerão seus feitos no Oriente
se lá passar a Lusitana gente.
sentença- opinião;
padre Baco- deus Baco, mítico introdutor da técnica de preparação do vinho.
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Ouvido tinha aos Fados que viria
ua gente fortíssima de Espanha
pelo mar alto, a qual sujeitaria
da Índia tudo quanto Dóris banha,
e com novas vitórias venceria
a fama antiga, ou sua ou fosse estranha.
Altamente lhe dói perder a glória
de que Nisa celebra inda a memória.
Ouvido tinha aos Fados- estava destinado;
Espanha- Península Ibérica;
tudo quanto Dóris banha- tudo o que o mar banha (Dóris era uma divindade associada com o mar);
ou sua, ou fosse estranha- a fama dele, Baco, ou doutro qualquer (toda a fama antiga);
Nisa- lugar mítico onde Baco teria crescido.
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Vê que já teve o Indo sojugado
e nunca lhe tirou Fortuna ou caso
por vencedor da Índia ser cantado
de quantos bebem a água de Parnaso.
Teme agora que seja sepultado
seu tão célebre nome em negro vaso
d'água do esquecimento, se lá chegam
os fortes Portugueses que navegam.
de quantos bebem a água de Parnaso- dos poetas (o Parnaso é um monte na Grécia cujas fontes eram supostas inspirar os poetas);
água do esquecimento- água do mítico rio Letes que era suposta provocar amnésia nos que a bebessem.

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