Faianças
"kitsch"
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O adjectivo "kitsch" é um neologismo derivado do verbo alemão (etwas) verkitschen que significa fazer uma má cópia (de algo) e começou a ser utilizada no século XIX para classificar estampas e pinturas sem gosto, que imitavam estilos cultos e se destinavam aos consumidores pouco judiciosos. Aplicado a faianças o termo "kitsch" pode ter dois significados afins em português: 1) referir-se a peças que são cópias baratas de peças de estilo; ou 2) referir-se a peças pura e simplesmente de mau gosto. É neste segundo sentido, mais corrente, que utilizarei o termo em relação a uma classe de faianças que considero particularmente fascinantes e cuja preservação espero ajudar ao escrever este artigo. Restringir-me-ei arbitrariamente às faianças fabricadas na região de Barcelos, onde, creio, o estilo terá conhecido as mais notáveis criações. Antes de iniciar a discussão do tema, quero exemplificar o kitsch no primeiro sentido que acima referi, para que a diferença fique clara. As figuras 1 e 2 representam, respectivamente, uma figura feita pelo processo da barbotina na região de Barcelos circa 1962 e uma bailarina em bronze e marfim por Demétrius Chiparus datando da década de 1930. A peça de Barcelos (provavelmente moldada a partir de uma faiança estrangeira) tem algum mérito decorativo que é prejudicado pela tentativa de imitação do estilo Déco, cujas peças se caracterizavam pela qualidade dos materiais e dos acabamentos. |
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As faianças kitsch de Barcelos (no segundo sentido- peças de gosto duvidoso) distinguem-se por algumas ou todas as características seguintes : i) pela cópia (frequentemente resultam do abastardamento de peças de outros fabricantes em geral já de gosto duvidoso- a Estatuária Artística de Coimbra, por exemplo, de que foram copiados os jogadores de futebol, os elefantes atacados por tigres, etc); ii) pelos temas absurdos (um cão com uma bola de futebol, um pinguim de cartola...); iii) pelo colorido anómalo (cães com pelo verde ou tigres encarnados); e iv) pelo impacto visual (os melhores exemplos do kitsch de Barcelos são peças decorativas tais como centros de mesa que pelo tema, tamanho e cores atraem imediatamente a atenção de quem entre no compartimento onde se encontrem). As peças kitsch de Barcelos, hoje em vias de total extinção, constituíam um subconjunto do figurado de molde fabricado na região e eram primariamente comercializadas em feiras, um pouco por todo o País. Apresentarei de seguida alguns exemplos meritórios para os quais proporei um índice de kitsch (K) que varia desde K=0,0 (peça não-kitsch) até K=5 (kitsch mais extremo). As classificações individuais representam, bem entendido, uma mera apreciação subjectiva. Antes de começar quero deixar uma nota a quem tenha a pachorra de me ler: este estudo é despretencioso mas é um estudo!! Não estou de maneira alguma a troçar das peças que ilustrarei e muito menos dos seus fabricantes. Nem me envergonho de confessar que admiro os criadores a quem se devem peças tão originais e de cunho tão marcado. Os fabricantes faziam-nas para um mercado que era substancial - o gosto kitsch era de quem as comprava e não necessariamente de quem as produzia para satisfazer a procura! Este texto está orientado, ainda que superficialmente, para a teoria do design, mas chamo a atenção dos sociólogos e afins para o interesse do estudo dos grupos humanos que constituíam a procura das faianças kitsch e, em particular, da sua evolução no tempo. |
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Figura 7- Leão com bola vermelha (comprimento= 35cm) é uma outra versão muito mais rara do mesmo tema. Quando o viu, a minha mulher lançou as mãos ao rosto e disse "Meu Deus!" (K=5) | |||||||||||||||
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NOTA FINAL- Ver aguça o desejo de possuir... espero que este pequeno artigo incentive o coleccionismo e a conservação do kitsch português nas suas várias formas, para que peças de cunho tão marcadamente nacional possam ser preservadas para a posteridade. |
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20 de Julho
de 2008
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João
Manuel Mimoso
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