Uma história natural do Galo de Barcelos |
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O figurado cerâmico é multisecular na região de Barcelos. Entre outros motivos eram comuns as representações de animais domésticos: bois, porcos, equídeos, galos, galinhas... Os galos estão tradicionalmente
associados a virtudes mas muito mais importante é o facto do canto
do galo anunciar o dia. A noite e a sombra estão associadas ao
Mal e portanto o nascer do Sol representa a vitória do Bem e o
galo é o seu arauto. É talvez como figura protectora que
o galo enfeita os cataventos das igrejas, tal como, em algumas igrejas
medievais, figuras monstruosas protegiam as portas viradas a Norte (o
lado sombrio) da entrada do Mal. Em qualquer caso é importante
extrair que um galo está sempre associado a factores positivos. Na região de Barcelos perduram duas versões de uma lenda de origem estrangeira, cuja data de incorporação no folclore local desconheço, segundo a qual um condenado à forca teria sido milagrosamente salvo por um galo que cantou depois de morto para provar a sua inocência, milagre que o Galo de Barcelos celebraria. Como prova da antiguidade desta lenda é invariavelmente apontado um belo cruzeiro historiado existente na região, conhecido por "Senhor do Galo" e datável ao início do séc XVIII, que representa um galo presidindo a uma cena em que um condenado suspenso da forca parece ser sustentado por São Tiago. Mas em nenhum de dois trabalhos eruditos publicados em 1927 e 1932 sobre a etnografia local [1,2] se menciona a lenda (embora se mencione a do Senhor das Cruzes) e no primeiro, legendando uma imagem do padrão, diz-se mesmo: O galo representa frequentemente a negação de S.Pedro (...) e o historiado do pilar quem sabe se simboliza a voz que apregoa o castigo a que está sujeito quem abandona a Lei de Deus. Referindo-se em 1965 ao Galo de Barcelos, João Macedo Correia, que conhecia o meio desde antes de 1940, escrevia: Creio que é um erro relacionar esta lenda, que nem era conhecida dos nossos barristas, com este fabrico cerâmico. [3] |
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Definir um galo de Barcelos de uma maneira unívoca é tarefa que pode apenas ser tentada. Tal como se reconhece alguém conhecido, também o Galo se reconhece sem ser possível descrevê-lo com exactidão. As suas principais características são:
Esta definição é importante, não só pelo que inclui mas principalmente pelo que exclui: galos vidrados, com crista lisa, barbelas unidas, ou suporte sobre pernas individualizadas não são galos de Barcelos, segundo a definição anterior. |
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Figura
1- Proporções clássicas do Galo de Barcelos
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Figura
2- Ilustração de um galito de apito no estudo de Rocha Peixoto
de 1899
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Figura
3- Galo de apito. Pintado com tinta artesanal já desaparecida;
altura 8,5cm
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Num estudo redigido em 1899 [4] Rocha Peixoto aborda os temas inspiradores do figurado de Barcelos, afirmando: O gallo, porém, excede em número e em variedade todas as espécies de fauna. É a melhor tratada em nobresa de porte, em insistência de detalhes, em apuro final de modelado. Na impressão que as aves exercem destaca-se a que produz esta, visivelmente pelos costumes dominadores e másculos. Altivo e magestoso, vigilante e cupid(íne)o, todo o povo o celebra, em contos, em superstições, em cantares. (...) Foi elle quem affirmou a divindade de Jesus quando os apóstolos, à mesa, duvidavam; é elle quem se antecipa a annunciar as alvoradas. E grande ainda é o seu poder sobre as entidades maléficas das trevas, já celebrado nos hymnos da Egreja e nos cantos populares, antigo e extenso na symbólica grega, por exemplo, (e) no Avesta em que o canto do gallo obriga os demónios a fugir, desperta a aurora e faz erguer os homens. Este revelador texto é ilustrado por um precioso apito de Barcelos anterior a 1900 (reproduzido na figura 2), registo sem o qual a ancestralidade do Galo estaria hoje esquecida. Utilizando o apito como escala, conclui-se que a altura deste galito seria da ordem dos 15 cm e a sua morfologia é mais próxima da do Galo de Barcelos do que a de apitos semelhantes moldados algumas décadas mais tarde (figura 3). Afasta-se, no entanto, pela forma da crista. Provávelmente o corpo seria maciço e as barbelas estariam unidas. Chamaremos a estas figuras protogalos, para as distinguir dos autênticos galos de Barcelos. A estilização desta figura é muito peculiar sobretudo quando comparada com um apito afim, modelado a partir de um galo autêntico, como o da figura 3. Na verdade o perfil do protogalo do séc. XIX é o de um catavento, sugerindo a procura na iconografia do Concelho de Barcelos de alguma imagem de um que lhe possa ter servido de modelo. O próprio Rocha Peixoto, num outro estudo publicado em 1907, referia que o galo era o motivo mais frequentemente encontrado nos cataventos da região [XX] . A próxima referência interessante que conheço a galos, presumivelmente no figurado de Barcelos, data de 1931 e encontra-se numa troca de missivas enquadrada pela organização de um congresso internacional que decorreu no Estoril em finais de Setembro de 1931 e para o qual a Comissão Organizadora (de que faziam parte António Ferro e Leitão de Barros) decidira ofertar figurado regional aos congressistas. Carta de Leitão de Barros a Artur Maciel: "Caro Maciel, convém modelos de maior tamanho (...). Dos maiores vi em tempos uns galos grandes (...)." Carta de Artur Maciel a Manoel Couto Viana, datada de 15 de Setembro de 1931: "O Leitão de Barros lembrou-se de distribuir bonecos de louça aí do Norte - Famalicão, Barcelos? Trata-se daqueles bonecos decorativos que só vendem nas feiras, bois, galos vermelhos e primitivos. Há uns grandes, muito curiosos, que o Leitão de Barros comprou uma vez no Senhor de Matosinhos..." [5]. Neste documento há duas coisas notáveis: a menção a "galos vermelhos primitivos... e grandes" e a menção a "bonecos decorativos". É que o figurado desta época é geralmente considerado como brinquedo - pequenas figuras, em geral decorando apitos. A existência de galos vermelhos, grandes, decorativos, já em 1931 é, por isso, de capital interesse para a definição tentativa da sua evolução, tanto mais quanto o tamanho acrescido implica uma técnica diferente de moldagem. Na verdade, durante a cozedura o barro sofre uma alteração volumétrica súbita a cerca de 570ºC (ponto de inversão do quartzo) que provoca a rotura de peças relativamente volumosas que sejam maciças. Ao aumentar o tamanho de um galo para 20cm ou mais é necessário vazar o corpo, não só por uma questão de peso mas sobretudo para evitar a quebra durante a cozedura. As maneiras mais simples de se conseguir um corpo vazado são a manufactura na roda de oleiro ou a utilização de moldes em gesso, representando a última uma forma mais avançada para produção em série. Ao fazer o primeiro galo na roda, o oleiro teve necessariamente que tornar o corpo globular, dando-lhe uma das características morfológicas que o Galo ainda hoje conserva. O que a troca de missivas anterior sugere é que havia já "galos de roda" em 1931. O Museu de Olaria de Barcelos tem na sua soberba colecção alguns galos com cerca de 20cm de altura que, apesar de serem provavelmente mais recentes, correspondem à descrição de Leitão de Barros e Artur Maciel, dois dos quais se encontram reproduzidos nas figuras 4 e 6. Em "Vida e Arte do Povo Português" (publicado em 1940, após a exposição do Mundo Português) Santos Júnior faz, ao tratar dos bonecos de barro, a seguinte menção: Não podemos deixar de nos referir dum modo especial ao galo, que é tratado pelos bonequeiros de Barcelos em múltiplas formas ou atitudes, com uma certa minúcia de detalhe e um especial apuro no modelado e na pintura. Há-os ricamente coloridos, com uma nobreza e elegância de porte verdadeiramente impressionantes. Uns com o pescoço direito com ar altivo e majestoso, outros com o pescoço ondulado e quase na horizontal, na atitude flagrante do seu cacarejar esganiçado. (...) A estatuária de Barcelos é constituída por figuras em geral pequenas. Raras vão além de 20cm de altura. Facto interessante a acentuar é o de quase todas as peças desta estatuária terem assobio e buracos para palitos. Este último atributo confere-lhes, ingenuamente, um certo préstimo para os adultos embora sejam as crianças os seus únicos clientes. [6] O autor é o notável etnólogo e biólogo Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior, nascido em Barcelos em 1901 e, portanto, com conhecimento directo da região. O texto anterior é evidentemente inspirado pelo de Rocha Peixoto já citado mas as peças que descreve são diferentes. Infelizmente, e apesar do encómio, as ilustrações da obra não incluem nenhum dos tais galos de porte altivo mas uma outra publicação de 1963 [7] ilustra parte da colecção do etnólogo Joaquim Sellès Paes de Villas Boas cuja dádiva proporcionou o arranque do Museu de Olaria já mencionado. As peças ilustradas correspondem, não só à descrição mas até, num caso, verifica-se a identidade em relação a uma ilustração estilizada constante do livro devendo pois concluir-se que o texto de Santos Júnior se baseou nestas ou noutras figuras idênticas. Nenhuma corresponde a um galo de Barcelos mas reconhecem-se diversos protogalos dos quais a figura 5 reproduz a peça mais relevante do grupo (um galo de roda, precisamente o mesmo da figura 4) sendo de notar, no entanto, que não deverá ser anterior a 1939/40, época em que, por ocasião da Exposição do Mundo Português, se produziram milhares de peças, entre reproduções do figurado antigo, e novidades por ele mais ou menos inspiradas, como veremos em seguida. |
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4- O Galo histórico 4.1- A Exposição
do Mundo Português Essas peças feitas em 1939/40 que o autor declara estarem no Museu pertenciam provavelmente à colecção Sèlles Paes e devem ser as que serviram de base ao texto de Santos Júnior já citado. Mas apesar da sua relativa modernidade nenhuma, repita-se, é classificável como um galo de Barcelos. Sem negar a possível anterioridade do Galo de Barcelos tal como o defini, a primeira referência iconográfica segura encontra-se em fotografias da Exposição do Mundo Português onde, na Secção da Vida Popular, estavam expostos vários galos de grande porte (cerca de 50 cm de altura) seguramente peças únicas fabricadas por encomenda para esta exposição, um dos quais marcado "Fábrica de Cerâmica de Eduardo Ferreira Sousa". Incidentalmente, Eduardo Sousa, infelizmente já falecido, era casado com Rosa Côta e, portanto, genro de Domingos Côto a quem é atribuída a modelação de galos de roda cerca de 1930. No entanto os galos de roda arcaicos que conheço (figuras 4 e 6, por exemplo), e que já seriam modelados na década anterior à Exposição, ainda não têm a crista serrilhada que é uma das características básicas do Galo de Barcelos e que só está, até agora, confirmada nos magníficos exemplares expostos na Exposição de 1940. Estes incluem uma outra característica que viria a caracterizar os acabamentos mais cuidados durante década e meia: as flores em relevo, reminiscentes das decorações de cantarinhas. Um outro aspecto decorativo a relevar é o motivo pintado no peito das figuras que, sem constituir uma inovação, era aqui tratado com especial detalhe, característica que viria a permanecer. Tratava-se, seguramente, de peças de prestígio e não é impossível que a crista tenha sido nelas serrilhada pela primeira vez para mais a aproximar à realidade já que a dimensão das figuras era ela-própria realista (isto é, não é impossível que estes tenham sido os primeiros Galos de Barcelos, modelos originais de todos os que se lhes seguiram). Creio que estas importantes peças estiveram expostas no lamentado Museu de Arte Popular e aguardo a sua reintegração no Museu Nacional de Etnologia. Da apreciação das fotografias contemporâneas reproduzidas nas figuras 7 [8] e 8 [9 ] parece poder concluir-se que a cor-base de pelo menos um dos galos era semelhante à dos bois (avermelhada). Todas as características morfológicas que identificam um galo de Barcelos estavam presentes notando-se duas novidades: a crista serrilhada, que já se mencionou, e o pedestal campaniforme vazado que se tornou necessário devido ao tamanho das peças e contrasta com os anteriores pedestais discoidais. Notem-se, também, os arcaismos: a cauda sem serrilha, a ausência da representação das patas, a altura excessiva do corpo, moldado na roda, e- talvez a característica mais curiosa- o recorte inferior da cauda. Se se considerar novamente a figura 1, notar-se-á que o galo do século XIX tinha a cauda recortada inferiormente em semicircunferência, enquanto que nestes Galos, tal como nos protogalos ilustrados nas figuras 4 e 6, o recorte era mais simples e resultava da concordância de dois segmentos de recta ou de um segmento com um arco de pequena abertura. O recorte voltaria a ser um arco, mas apenas alguns anos mais tarde... |
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Figura
7- Exposição do Mundo Português (1940) - Secção
da Vida Popular
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Figura
8- Exposição do Mundo Português
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4.2- Primeiras morfologias do galo de Barcelos Tomando como premissa que até à Exposição do Mundo Português não havia galos de grandes dimensões, sendo os maiores os protogalos de roda com uma altura da ordem dos 25cm, podemos considerar as peças existentes como muito provavelmente posteriores e basear nessa hipótese um relançe sobre a sua evolução morfológica até ficar estabelecido um modelo definido. É necessário um estudo da iconografia da época (que felizmente existe nos arquivos do SPN/SNI) para determinar exactamente a duração da evolução, mas sabe-se que na segunda metade da década de 1940 já estava estabelecido um modelo (o Galo Clássico). Na lista seguinte ilustram-se características transicionais observadas nos mais antigos galos de Barcelos. Mas, note-se, as características não eram exclusivas de um determinado periodo nem se sucediam cronologicamente, antes podendo coexistir durante periodos mais ou menos longos. Também se conhecem exemplares com algumas características que constituem excepções e que só confirmam estar-se perante um processo de experimentação evolutiva.
4-3 Características do Galo de Barcelos Clássico A morfologia clássica do Galo de Barcelos estava já estabelecida na segunda metade da década de 1940, tendo sido dominante durante cerca de uma década. A única referência segura que tenho neste momento é um conjunto de três galos de tamanhos diversos, todos com pintura de base negra, dos quais o de tamanho intermédio está marcado "Feira de Sacavém, 18-V-1951". Este conjunto e, em particular, os tamanhos maiores (figuras 12 e 13) tipificam as características da época que são:
Um ponto curioso reside no aparecimento da cor-base negra que viria a tornar-se quase exclusiva a partir de meados da década de 1950. Que eu saiba, apesar do negro ser utilizado no traçado de detalhes e na pintura do cabelo, nunca anteriormente a cor negra fora utilizada como cor de fundo na pintura do figurado de Barcelos. É provável que tenha sido introduzida para obviar às carências de pigmentos químicos durante a Guerra, já que podia ser facilmente obtida uma têmpera negra utilizando como veículo a cola de peixe e como pigmento a fuligem das chaminés. |
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Figura
12- Galo de 1951 (pedestal laranja, "furos para palitos", orifício
de mealheiro, flores em relevo). H= 35cm
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Figura
13- Galo da mesma origem (pedestal laranja, "furos para palitos",
decoração à base de "plumas"). H= 28cm
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Figura
14- Fundo datado do Galo da Fig. 13
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4.4- O surgimento do Galo Moderno Os galos esguios surgidos em meados da década de 1950 tinham uma forma diferente da clássica. Este "new look" era caracterizado sobretudo por pescoços mais esbeltos e altos, crista e cauda mais desenvolvidaa e serrilhadas em dente de serra, de uma maneira menos aparente que o anterior denteado triangular. A mais antiga referência que li a este novo estilo data de Novembro de 1957 [10]: Há tempos o Gonçalves Torres meteu-se a aperaltar este nosso galo e saíu-lhe então das mãos o "moderno galo de Barcelos". [...] Deixou de ser o ingénuo para ser o donairoso mas continua a ser caracteristicamente regional. Nenhum dos tipos anteriores perdeu venda, pois todos continuam a fabricar-se e a vender-se. [...] É certo que são os modernos que mais se vendem. [...] Honra e glória ao Gonçalves Torres, já que dinheiro não ganhou. Bem sabemos que isto escandaliza a maior parte dos admiradores das nossas loiças [...] E onde está o mal das alterações se todos continuam a encontrar no mercado galos de todas as épocas? Tendem a desaparecer os primitivos? É só prevenirem-se com umas boas colecções! O pintor de Barcelos Manuel Gonçalves Torres deve ter pensado que as duas superfícies fulcrais na actractividade do galo de Barcelos eram a crista e a cauda e que estas podiam ser mais bem realçadas e aproveitadas como suportes de decoração. O seu redesenho do Galo (provavelmente nada mais do que um exercício para provar um ponto de vista, de que não esperaria grandes consequências) deve datar de cerca de 1955 e foi com a nova forma e uma nova decoração, tendo como motivo central corações vermelhos, que o galo de Barcelos foi cartaz turístico de Portugal e se divulgou através das revistas de decoração francesas e de outros países. Do texto anterior ficamos a saber que houve uma reacção contra a modernização do estilo mas, como é o mercado que comanda os fabricantes e não o tradicionalismo, o novo modelo acabou por triunfar. Um dado interessante está contido na afirmação "todos continuam a encontrar no mercado galos de todas as épocas". Na verdade é provável que o redesenho de Gonçalves Torres tenha sido anterior à vulgarização dos corações vermelhos como motivo decorativo (porque se conhecem galos "new look" ainda com a decoração clássica e características arcaizantes- figura 16), no entanto também se conhecem galos com características morfológicas arcaicas mas com decorações baseadas em desenhos puntiformes envolvendo corações. Provavelmente representarão casos de permanência do estilo clássico, coexistindo com o Galo Moderno. As principais características que definem o Galo Moderno são:
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Com a adopção do novo estilo entrou-se novamente num periodo de experimentação, incluindo cristas excessivas (como a da figura 16), variantes dos serrilhados e simplificação do pedestal. Os corações vermelhos, cuja forma foi inspirada pelos bordados e jóias minhotas, foram introduzidos na segunda metade da década de 1950 e ainda hoje permanecem como tema decorativo omnipresente. O pedestal, agora pintado de verde ou azul, simplificou-se, tal como a representação das patas que passaram a ser vestigiais ou apenas pintadas a amarelo sobre a campânula do pedestal. Na década de 1960 o Galo Moderno atingiu um apogeu estético exemplificado pelo exemplar da figura 21 comprado em Barcelos cerca de 1965. Além dos galos negros, têm direito a menção os galos brancos (ditos "galos de noiva"), de que a figura 22 ilustra um curioso exemplo com alguns versos da letra da adaptação portuguesa de "La Novia" da cançonetista espanhola Gelu (1961) pintados no pedestal ("Branca e radiante vai a noiva"). Esta versão portuguesa era cantada, entre outros, por Agnaldo Timóteo e Rui de Mascarenhas e foi sucesso entre 1962 e 1964, o que data este exemplar de maneira indirecta. Por causa da sua elegância os Galos da década de 1960 eram, necessariamente, frágeis e evoluiram posteriormente num sentido inverso (o pescoço tornou-se mais curto e os recortes da cauda e da crista cada vez mais pequenos e menos numerosos). Menos airoso mas mais robusto, é esta a quase septuagenária herança que continua a alegrar todas as semanas a secular Feira de Barcelos. |
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Figura 21- Galo Moderno (1965) | Figura 22- Galo de noiva (circa 1964) | Figura 23- Galo de autor (Baraças- 2006) | ||||||||||||||||
PS: Existe um aspecto do galo de Barcelos que não referi. Visto como superfície decorativa, oferece inesperadas oportunidades à criação artística. É assim que existem "Galos de autor", identificados, ou não como tal, onde o pintor/decorador deu largas à sua capacidade artística. Existem também curiosidades, tais como as adaptações da figura do Galo a ocasiões temporais. Na figura 23 reproduzo uma peça que não sendo um galo de Barcelos pela minha definição (é assimétrica) exemplifica os pontos anteriores. Assinada "F.Baraça" é parte de uma pequena série de peças índividuais produzidas aquando do Campeonato do Mundo de Futebol de 2006 e na sua decoração o artista expressou a sua individualidade criativa, a par de uma sintonia com um evento de curta duração. | ||||||||||||||||||
2008- Junho-20
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Agradecimentos:
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Fontes e referências bibliográficas
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