MENSAGEM de Fernando Pessoa- Segunda Parte: MAR PORTUGUEZ
- PRECE
.Ouça aqui o poema (para estudantes de português) Óleo de Carlos Alberto Santos
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.

 

Mas a chamma, que a vida em nós creou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguel-a ainda.

 

Dá o sopro, a aragem- ou desgraça ou ancia-
Com que a chamma do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distancia-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Comentários: A quase totalidade dos poemas de Mensagem trata, até este ponto, da glorificação do esforço da Raça que cumpriu um destino que a levou a iniciar a grande Idade da Exploração Marítima e atingiu o seu apogeu no século XVI. O poema anterior a este faz a ponte entre o eclipse de Portugal, com o desaparecimento do rei D.Sebastião, e o tempo em que o poeta escreve. O presente poema conclui este ciclo de Mensagem fechando-o com uma invocação do poeta à intervenção divina.

"Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi...etc"- passou o tempo da nossa grandeza; tantos obstáculos vencemos que hoje perdemos a valia.

"a mão do vento pode erguê-la ainda"- tal como o fogo quase extinto pode ser reavivado por um sopro, a Alma Portuguesa pode ainda levantar-se.

"E outra vez conquistemos a Distância, do mar ou outra, mas que seja nossa!" (uma bela frase)- sejamos de novo grandes entre as Nações!

.Ouça aqui o poema (para estudantes de português) .
Voltar ao índice da MENSAGEM de Fernando Pessoa
Lisboa, Portugal. Setembro 09, 2003
 
Revisto Janeiro 13, 2004
...ou visitar a minha home-page
João Manuel Mimoso
.  

English version

An introduction to the poem: This is the twelfth and last poem of the Cycle "Portuguese Sea". Pessoa remarks that the spirit of the Portuguese is low and justifies it by the exhaustion of the strength of the nation in surpassing the Herculean tasks that had been met. He then appeals to God and asks him to bring back the old spirit of Portugal so that we may yet again conquer the Remoteness.

Prayer

Lord, the night has come and the spirit is low.
So great was the storm and the strife!
What is left to us today, in the hostile silence,
Are the universal sea and a yearning.

 

But the flame, that life created within us,
If there is still life, 'tis not yet done.
The deathly cold concealed it in ash:
The hand of the wind may yet raise it.

 

Give the breath, the breeze - or misfortune or the eager desire-
With which the flame of endeavour is rejuvenated,
And again shall we conquer the Remoteness-
Of the sea or some other, but let it be our own!