MENSAGEM de Fernando Pessoa- Segunda Parte: MAR PORTUGUEZ
- OCCIDENTE
.ouvir Ilustração de Carlos Alberto Santos
OCCIDENTE
Com duas mãos- o Acto e o Destino-
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.

 

Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Occidente o véu rasgou,
Foi alma a Sciencia e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.

 

Fosse Acaso ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.

Comentários:

Este poema, que refere as navegações para ocidente e, em particular, a descoberta do Brasil, chamou-se originalmente "Os descobridores do Occidente" e o texto final aqui apresentado tem diferenças apreciáveis em relação à primeira versão, que muito a melhoraram.

Aborda um tema recorrente em Mensagem: a epopeia dos Descobrimentos foi o cumprimento de um destino; e a obra portuguesa foi a corporização da vontade de Deus "foi Deus a alma e o corpo Portugal" (da mão que levantou o facho e rasgou o véu da ignorância).

"Fosse acaso ou vontade, ou temporal..."- referência à dúvida quanto a se a descoberta do Brasil em 1500 foi ocasional, planeada para que fosse divulgado nessa data um território já anteriormente encontrado, ou causada por um temporal que teria desviado as naus da rota traçada.

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Lisboa, Setembro 09, 2003; revisto 2004-01-16
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João Manuel Mimoso
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