MILAI BENSABAT
 
                 
 
Milai Bensabat, à esquerda, com Maria Carlota Álvares da Guerra na festa que marcou a tiragem de 100.000 exemplares da Crónica Feminina (1960)

Milai Bensabat Nasceu em Lisboa, interessando-se desde muito nova por actividades literárias. Aos 14 anos venceu uns Jogos Florais juvenis e, na sequência desse sucesso, passou a escrever letras de fados que eram publicadas nuns opúsculos maravilhosamente chamados "Canção do Sul". Esses poemas eram pagos ao preço de 12$00, que diz ter sido o melhor vencimento que alguma vez teve.

Prosseguiu estudos no campo da Saúde, tendo conhecido Fernando Namora quando era médico no Instituto de Oncologia. A convite deste teve uma colaboração eventual no jornal O Globo do Rio de Janeiro, com uma coluna intitulada "Daqui Lisboa".

A mãe era cliente da Loja dos Figurinos, onde Mário de Aguiar costumava estar ao balcão com o padrasto, e foi aí que o conheceu. Desse conhecimento resultou uma colaboração anónima no suplemento literário da revista Mãos de Fada. Em 1953 escreveu três contos para a 2ª Série da revista Crónica da Agência Portuguesa de Revistas, sob o nom de plume Milai Bensabat. No mesmo ano sugeriu a Mário de Aguiar uma redução do formato de Mãos de Fada, até então tablóide, para o de uma revista. Essa alteração foi implementada em Janeiro de 1954 e Milai Bensabat tornou-se a Directora Literária da revista.

Um dia Mário de Aguiar disse-lhe que pensava lançar uma revista feminina que "coubesse nos bolsos e nas malinhas de mão" e convidou-a para a dirigir. O nº1 da Crónica Feminina saíu a 29 de Novembro de 1956 com Milai Bensabat como Directora e Editora (terá sido a primeira vez que as duas funções foram exercidas pela mesma pessoa numa publicação da Agência) e Maria Carlota Álvares da Guerra como Chefe da Redacção. A revista tinha originalmente 32 páginas de um conteúdo ecléctico a um preço verdadeiramente popular: 1$50. Apesar das tiragens serem inicialmente baixas, a procura ia sempre subindo: tinha sido encontrada uma fórmula vencedora.

Em 1959, para comemorar o terceiro aniversário da revista, Mário de Aguiar impôs a publicação de uma fotonovela (a primeira produzida em Portugal), realizada com colaboradores da Agência e amigos- o protagonista era o desenhador José Antunes. Milai Bensabat aceitou a contragosto essa descida do nível intelectual da revista, baseada na substituição de palavras por imagens, mas as tiragens continuaram a subir e a fotonovela tornou-se uma secção permanente. Ao fim de quatro anos a revista já tinha 80 páginas e tirava 115.000 exemplares por semana. A tiragem ainda subiu alguns anos mais tarde a uns incríveis 140.000 exemplares, em parte à custa da difusão por via aérea no Ultramar- a Crónica era transportada pela TAP em troca de publicidade na revista, o que lhe permitia ser posta à venda quase simultaneamente em Lisboa, Luanda e Lourenço Marques.

O sucesso é exaltante mas a rotina mata o prazer. Em Março de 1966 despediu-se de Mário de Aguiar, de António Dias e dos seus colegas e colaboradores e aceitou o desafio da Editorial Íbis para lançar uma publicação afim, com liberdade para escolher os conteúdos. O resultado foi a revista Magazine, uma publicação feminina que aspirava a abordar os principais problemas sociais da sua época. Os conteúdos tinham frequentes cortes da Censura e um número, que tratava das experiências de modernidade no seio da Igreja, foi mesmo proibido de circular quando estava já impresso. Alguns meses mais tarde os responsáveis da Íbis decidiram terminar a revista na sequência da constante perseguição da Censura e Milai Bensabat nunca mais voltou às lides editoriais, retomando o lugar que deixara na medicina escolar preventiva.

Vive hoje no Estoril e de toda a produção editorial a que esteve associada conserva apenas um número da Crónica Feminina, dizendo que só o futuro lhe interessa. Há alguns anos atrás, foi convidada para um talk-show da RTP e o entrevistador sugeriu, com muito pouco tino, que a Crónica Feminina tinha sido uma revista para pessoas de baixo nível cultural. Só respondeu: "Nunca me arrependi de a fazer- ouviu? Nunca!".

João Manuel Mimoso

 
À esquerda, com um grupo de colaboradores na Agência (~1963).
                   
                   
 
Milai Bensabat em Dezembro de 2004
                   
                   
                   
           
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